Texto aprovado exclui as medidas que impactavam gravemente no pacto federativo
A direção da ANAPE, representada pelo Presidente Marcello Terto e pelo Vice-Presidente Telmo Lemos Filho, ladeados do Diretor da APESP Fabrizio Pieroni, acompanharam as negociações que culminaram com a aprovação do PLP 257/16, no Plenário da Câmara dos Deputados, na madrugada de hoje (10/08).
O PLS 257 propõe o alongamento das dívidas de estados e do Distrito Federal com a União por 20 anos, mediante o cumprimento de algumas contrapartidas de reestruturação fiscal, e foi aprovado por 282 votos a 140, na forma de emenda substitutiva oferecida pelo relator, deputado Esperidião Amin (PP-SC) e emenda aglutinativa destacada e votada ainda na madrugada de hoje (10/08).
Todas as propostas constantes de nota técnica da Anape distribuídas aos deputados foram acolhidas, sobretudo aquelas relativas à ampliação do conceito de gastos de pessoal, ao tratamento isonômico entre os Poderes e órgãos independentes, à impropriedade de disciplina de matérias previdenciárias, à vedação de reajustes, concessão de vantagens e adequações remuneratórias e ao pacto federativo.
Outros destaques precisam ser analisados pelo Plenário em sessão marcada para esta quarta-feira (10/08), como o que pretende retirar do texto a limitação do crescimento anual das despesas primárias correntes à variação do IPCA do ano anterior, mas a vedação de concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remunerações a qualquer título caiu mediante aprovação de destaque logo após a do texto base.
Para os críticos do projeto, de igual maneira esse limite implicaria dificuldades na concessão de reajustes devido ao aumento de outras despesas acima desse índice inflacionário, o que também dificultaria a manutenção de serviços públicos para a população nos níveis demandados. Mas, nesse ponto, prevaleceu a posição do governo de que não seria possível conceder o alongamento da dívida e os descontos nas parcelas sem qualquer contrapartida dos estados, do DF e dos municípios no controle dos gastos. Este tema não se esgota nesta proposta, sendo objeto também a PEC 241/16.
Segundo o relator, as contrapartidas foram negociadas pelos governadores e não impostas pelo Executivo federal. “Não é verdade que negar o projeto significará um melhor tratamento aos servidores”, afirmou, lembrando que em muitos estados há atraso no pagamento dos salários e que os descontos por dois anos nas parcelas das dívidas viabilizarão o pagamento em dia.
Durante a manhã de ontem, 09/08, representantes da ANAPE estiveram reunidos com o Colégio Nacional de Procuradores-Gerais dos Estados e do Distrito Federal (CNPGEDF), quando foram discutidos pontos do projeto que interfeririam seriamente na autonomia dos Estados e do DF. De lá saiu a recomendação de que as PGEs e a PGDF discutissem com as lideranças parlamentares das respectivas bancadas questões relacionadas ao direito de ação das unidades federadas e a autonomia de cada uma para definir as medidas necessárias para se manter dentro dos limites de gastos primários previstos na lei. Coordenou a reunião a Vice Presidente do Colégio e Procuradora-Geral do Distrito Federal, Paola Aires, auxiliada pelo Procurador-Geral do Estado do Rio Grande do Sul, Euzébio Fernando Ruschel. Estavam presentes representantes de todos os Estado na Câmara Técnica do CNPGEDF.
Além da nota técnica, dirigentes da ANAPE e da APESP produziram artigos alertando para as questões federativas em risco, em veículo de grande circulação nacional, como o jornal O Globo (Bruno Hazan) e o site Conjur (Telmo Lemos Filho e Fabrício Pieroni).
Os seguintes pontos permaneceram no texto do PLP 257 aprovado ontem:
Descontos - De julho a dezembro de 2016, haverá uma carência e os estados não precisarão pagar as prestações mensais devidas. De janeiro de 2017 a junho de 2018, a parcela devida será paga no montante de 5,26% do valor renegociado, com crescimento no mesmo percentual, mês a mês, até atingir 100% em julho de 2018.
As diferenças não pagas serão incorporadas ao saldo devedor, com incidência dos juros normais, mas sem multas e juros de mora. A redução prevista no projeto será limitada a R$ 500 milhões por estado para cada prestação mensal. Caso o estado não adote as medidas de limitação das despesas perderá o desconto e o alongamento do prazo para pagar a dívida.
Tabela Price - As novas prestações mensais serão calculadas com base na tabela Price, sem limite máximo de comprometimento da Receita Corrente Líquida (RCL) do estado e sem aplicação de deduções para calcular essa receita. Os juros de mora por atraso no pagamento da prestação serão de 1%. Já a correção da dívida, segundo normas da Lei Complementar 148/14, ocorrerá com a aplicação da taxa de juros Selic ou do IPCA mais 4% ao ano, o que for menor.
Quanto às parcelas vencidas e não pagas em razão de mandados de segurança concedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o projeto prevê que elas poderão ser pagas em 24 meses, atualizadas pelos encargos contratuais, com pagamento a partir de julho de 2016 e amortização constante.
Esses mandados de segurança foram concedidos pelo Supremo a diversos estados que questionavam a aplicação de juros compostos em vez de juros simples na renegociação das dívidas pela Lei Complementar 148/14.
BNDES - Outro ponto constante do projeto é o refinanciamento de contratos de empréstimos e financiamento celebrados, até 31 de dezembro de 2015, entre as instituições públicas e os estados com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para isso, eles serão dispensados dos requisitos para a realização de operações de crédito e concessão de garantias pela União, inclusive as exigências legais que impediriam o recebimento de transferências voluntárias.
Restrições - Várias outras restrições constantes da primeira versão do texto enviada pelo Executivo foram retiradas do texto, seja na nova versão proposta pelo governo ou na aprovada. A maior parte delas é relacionada ao controle de gastos com pessoal e a medidas de contenção nas leis de diretrizes orçamentárias (LDO) e no plano plurianual (PPA).
Entre as medidas excluídas, constavam elevação das alíquotas de contribuição previdenciária dos servidores, limite em reais da despesa primária total na LDO, contingenciamento para alcance de metas de superavit primário e redução de despesas com cargos de livre provimento.
Também foram retiradas da versão aprovada mudanças na tipificação dos crimes previstos no Código Penal relativos ao aumento de despesas com pessoal nos 180 dias anteriores ao fim do mandato.
Avaliação de programas e metas - O projeto estabelece critérios para a avaliação do cumprimento das metas ou dos compromissos do Programa de Acompanhamento Fiscal a que estão sujeitos os estados e municípios de capital que refinanciarem suas dívidas, caso não participem do programa de ajuste fiscal previsto no momento em que suas dívidas foram assumidas perante a União na década de 90.
Mesmo que o ente federado descumpra as metas relacionadas à despesa com pessoal, às receitas de arrecadação próprias, à gestão pública, e à disponibilidade de caixa, ele será considerado adimplente para todos os fins (como transferências voluntárias) se tiver cumprido ao menos as metas de dívida consolidada e de resultado primário. E caso descumpra também essas duas metas, o Ministério da Fazenda poderá reavaliar em razão de justificativa fundamentada.
Para fins desse programa, serão levadas em conta todas as despesas com pessoal e não somente as despesas com o funcionalismo, como está previsto atualmente na Lei de Responsabilidade Fiscal e na Lei Complementar 148/14. Assim, para efeito de interpretação, despesas com terceirização poderiam ser consideradas como de pessoal, limitando o gasto total nessa rubrica.